Olá! Meu nome é Diogo Moreira, sou Auditor-Fiscal da Receita Federal e estou aqui para te ajudar a sair dessa “vida bandida” que é estudar para concursos.
Concurseiro é um bicho do mato. Não é fácil conviver ou se relacionar com ele. Coitado, ele passa o dia inteiro dentro de um quarto ou de uma biblioteca.
Não assiste nem jornal. Não sabe o que se passa no mundo. Não tem como ele ser uma ótima companhia.
E mesmo assim quase ninguém vive sozinho e isolado.
Concurseiro também tem mãe, tem irmão, tem namorado. E é aí que o bicho pega. É difícil para ele, mas também para quem o rodeia. Amizades se desfazem, relacionamentos entram em crise.
Por quê? E como evitar todos esses problemas? Quais são os aspectos da natureza humana que nos jogam para essas situações em que todos parecem ser vítimas? Seja você um concurseiro ou alguém que convive com ele, esse vídeo vai trazer ideias de como agir a partir de agora. Aproveite.
Estudo para concursos e relacionamentos.
Hoje eu vou atacar de “Hitch, o conselheiro amoroso”.
Brincadeiras a parte, esse é um aspecto que faz muita diferença, tem um impacto muito grande nos seus estudos para concurso. A forma como você se relaciona com a sua família e com seu cônjuge, namorado ou namorada, impacta diretamente os seus estudos.
Vamos falar primeiro da família.
Família pode te atrapalhar de diversas formas. Família é complicadíssimo. Sua mãe pode ficar de pentelhando durante o dia se você estuda em casa, seu irmão pode ficar te criticando que você não está trabalhando, seu pai pode ficar olhando feio para você achando que esse negócio de concurso não vai dar em nada.
É muita energia negativa que acontece com frequência. Eu já vi isso com alunos, eu vejo isso com o pessoal que manda mensagens, “Diogo, o quê que eu faço? Estou com vontade de matar a minha mãe”. Não mate, não vai ser legal. Existem algumas formas de lidar melhor com isso.
Na minha opinião, uma das grandes dificuldades de quem se relaciona de qualquer forma, é a falta de sinceridade.
Sim, existe aquela sinceridade excessiva que você só acaba deixando o outro triste desnecessariamente. Mas, um relacionamento aberto, sincero, que o jogo fica ali, as cartas na mesa, é muito melhor. A coisa flui muito melhor.
E não só com o seu cônjuge, mas também com a sua família.
Quando eu resolvi estudar para concurso, eu sentei com meu pai e minha mãe e falei: “olha só, eu quero estudar para concurso. Vocês apoiam? Eu quero largar o meu emprego. Vocês apoiam? Se vocês apoiarem, vocês me bancam? Se vocês me bancarem, vocês estão cientes de que pode levar 1 ano e meio, 2 anos, 3 anos? Sim? Tem condições? Então vamos lá. Eu vou fazer minha parte, vou me dedicar ao máximo”.
Isso foi um jogo aberto, foi fácil porque meu pai e minha mãe são servidores públicos aposentados, então eles adoraram. Filho concursado é o sonho de qualquer pai e mãe. Então, eles toparam.
Mesmo assim, eu ainda tive uns atritos de vez em quanto. E como eu resolvi? Conversando, abrindo o jogo.
Eu estudava dentro do meu quarto, ficava enfiado lá dentro, só saia a cada 1h, 1h30 quando fazia um intervalo, e, no começo, minha mãe gostava de entrar no quarto.
Entrava, falava alguma coisa e saía. Tocou o telefone e trazia para mim. “Diogo, você viu não sei o quê?”.
Comecei a ficar bravo com isso, mas qual foi a solução? Conversar.
“Mãe, eu vou sair desse quarto a cada 1h30 para fazer um intervalo de descanso, para beber uma água, para comer alguma coisa. Qualquer informação que você precise me passar, qualquer ligação, qualquer recado, qualquer pergunta, faça no intervalo. Não entre no meu quarto. Ele não vai ficar trancado, mas não é para você entrar. Se você entrar, você vai me atrapalhar. Ok? Tenho certeza que não tem nada que não possa esperar 1h30. Beleza?”
E assim a coisa se resolveu e esse espaço passou a ser respeitado.
O segundo ponto importante que eu tive que tratar foi resolver problema. “Diogo, você já foi lá resolver seu negócio no banco?”. “Não, eu vou outro dia”. “Diogo, você já foi lá resolver seu negócio no banco?”. “Não, eu vou outro dia”. “Diogo…”, “Olha só, eu vou sexta-feira 14h. Enquanto não chegar sexta-feira 14h, não me pergunte se eu fui lá no banco resolver o negócio. Todos os problemas que eu tenho que resolver fora de casa, eu vou resolver na sexta-feira a tarde.”
“A partir de agora vai ser sempre assim. Porque eu estudo durante a semana, eu adianto meu estudo o máximo que puder, eu garanto uma semana bem feita, e na sexta-feira eu resolver qualquer pepino. Ok? Tá combinado? Vai ser assim.”
E eu mencionei em outro vídeo também, que a impressão que sua família tem como está o seu estudo é razoavelmente fácil de contornar, de controlar. Como eu falei, vou repetir rapidamente:
Eu parava de estudar 10 minutos antes da minha mãe chegar para o almoço, e eu voltava a estudar 10 minutos depois que ela saia para o trabalho. Então ela chegava em casa, eu não estava estudando, ela saia para o trabalho, eu não estava estudando.
Aí depois de algumas semanas, ela me perguntou, “Diogo, você não está estudando muito não, né?”. Mudei.
Ela chegava em casa eu ainda estava estudando, parava de estudar 10 minutos depois que ela chegava em casa, e eu voltava a estudar 10 minutos antes de ela sair de casa. Então ela chegava eu estava estudando, ela saía eu estava estudando. “Diogo, você está estudando para caramba, né?”
Ninguém sabe o quê que se passa na nossa vida de concurseiro, é muito complicado, mas, se você tiver um pouco de tato, você consegue até controlar um pouco mais essa situação. Mostre ali nos momentos chave que você está estudando, que você está fazendo a coisa certa.
Mas, é aquela coisa, você pode brigar, você pode ficar puto e ver que é um problemão, mas você não vai deixar de ser filho, você não vai deixar de ser irmão… Mas deixar de ser namorado ou marido, você pode!
E aí, no relacionamento amoroso a coisa é um pouquinho mais delicada, é um pouquinho mais complicada.
Especialmente porque geralmente envolve dinheiro também. Você não apenas mora com a pessoa, namora, é casado, mas vocês também têm uma vida juntos, e geralmente um dos dois tem a fonte de renda, e muitas vezes não é você. Então, a coisa fica um pouquinho mais sensível.
Na época que eu estudava, eu tinha 25 anos, eu tinha uma namorada. Eu morava em Vitória. Ela era de Vitória, mas não morava lá. E a gente se via a cada dois ou três fins de semana. E a medida que o concurso foi se aproximando, essas duas três semanas foram esticando um pouquinho mais.
Isso não fez bem para o namoro naquela época. Mas não tinha outro jeito.
Ainda sim, quando ela ia para Vitória, de vez em quando eu falava, “olha, vai lá, vai encontrar suas amigas, vai lanchar e tal, que eu ainda preciso fazer mais duas horas aqui”.
Fiz mesmo. Coloquei o estudo em primeiro lugar, era uma coisa importante para mim, meu futuro que estava ali em jogo, e eu tive que impor isso aí.
Na época, foi em comum acordo, foi tranquilo. Entre a primeira e a segunda fase do concurso, o namoro acabou. E essa é uma outra dica: namoros acabam. Não é o fim do mundo.
Eu tinha 25 anos e eu achava que já sabia tudo da vida, que aquilo ali era “o relacionamento”, que eu ia casar, etc…
Depois que eu fui aprovado e que a gente terminou e eu vi que eu não tinha um pingo de maturidade para aquilo.
Então, se você é novo, releva. Fica mais tranquilo, eu sei que você está envolvido e tal, mas, abra o jogo. Eu vou estudar para concurso. Você me apoia? Vai ser assim e assado.
A gente só vai se ver no fim de semana. A gente só vai se ver a cada duas ou três semanas, a gente não vai poder ficar saindo para jantar, eu não vou poder ir para festa, balada, alguma coisa assim no fim de semana, porque se eu deitar tarde ferra minha semana inteira.
Beleza? Pode ser? Você topa essa realidade?
O que eu te prometo? Depois que eu passar, eu vou ganhar uma grana preta e te levo para Paris. É uma coisa combinada, é uma forma de dar um certo horizonte mais agradável para a coisa. Essa ideia de Paris é muito boa.
Ah, agora tá ruim, você está estudando muito…
Poxa, mas pensa em Paris, dá uma olhada ali, pega um roteiro de país, vamos pensar nessa viagem um pouquinho. E dá uma animada, dá um objetivo claro para os dois.
Porque a pessoa também, só ficar te aguentando, sem cortar cabelo, sem cortar unha, mal escovando o dente, feio para caramba, aquele “amarelo escritório” de quem não sai de casa…
Convenhamos que fica difícil de a pessoa te aguentar também. Então, faça um pouquinho por onde desses agrados também.
Com relação ao cônjuge, tem também a questão financeira. Vocês têm que ter tido um planejamento financeiro para você parar de trabalhar, por exemplo, se for o caso.
Quanto dinheiro a gente tem? Dá para gente se manter assim durante quanto tempo?
Se dá para pagar todas as dívidas sem queimar as reservas, você entende que eu vou ficar 1 ano e meio, 2, talvez 3 anos nessa vida? Você aceita isso? A gente vai ter uma vida muito melhor depois.
É importante deixar o jogo aberto.
“Ah, Diogo, eu larguei o trabalho, eu tenho dinheiro para 6 meses.”
Pô, não dá, cara. Em 6 meses você não vai passar em concurso bom rápido assim, é muito difícil. Então, pense com calma antes de fazer isso.
Mas é uma coisa que tem que ser combinada.
E, sim, seu cônjuge tem que estar ciente de que sua vida vai ser um saco a partir dali, que você não vai poder ficar fazendo viagem no feriado e tudo mais.
Mas, se possível, estabeleça um dia da semana para vocês saírem juntos, para vocês jantarem.
“Pô, Diogo, mas eu trabalho o dia inteiro, eu só tenho a noite para estudar…”
Faça isso. Pega quinta-feira, por exemplo, quando você já está cansado, torcendo para sexta-feira chegar. Quinta-feira a noite você não estuda. Toda quinta-feira a noite vocês vão sair. Vão para um cinema, saem para jantar, alguma coisa assim.
É muito provável que se você estabelecer essa rotina de sair uma vez por semana, você vai sair mais do que antes. Porque na rotina, o tempo vai passando, Netflix vai bombando, e ninguém sai de casa.
Se você estabelecer isso, é provável que você acabe saindo até mais. Vale a pena.
E você vai ter até um contato maior, vai conseguir sair, manter a sintonia com a pessoa.
Eu sei que é difícil, concurseiro não sabe falar sobre mais nada. Mas se vocês saírem para jantar, pegar um cineminha e tal, a coisa fica mais light. Você descansa na quinta-feira dos estudos, e repõe um pouquinho no fim de semana.
Sábado de manhã, domingo de manhã, pega o horário que seu cônjuge está dormindo, está com preguiça, alguma coisa assim, e dá um gás nos estudos. Tente organizar dessa forma.
Porque a situação é o seguinte: eu já tive aluno que dizia, “Pô, minha esposa está me enchendo o saco, ela está reclamando que não estou dando atenção, que não estou ficando com ela…”
Como que a pessoa está reclamando isso? Vocês não combinaram que você ia estudar para concurso?
Possíveis respostas:
- Não combinaram direito.
- Você não explicou como que iria ser a situação de estudar para concurso, você não falou, “olha, vai ser difícil, a gente vai fazer pouca coisa, a gente não vai poder viajar…”
Então, a gente volta ao que eu falei no início do vídeo: conversa! Comunicação: você tem que abrir o jogo.
A nossa vida vai ser assim e assado, x meses, durante tantos anos. Você topa?
Porque a partir do momento que a pessoa topa, você vira para ela e fala, “pô, não foi isso que a gente combinou. Eu estou aqui nessa tarefa árdua, estudando para concurso que é um saco, e você fica me criticando, fica reclamando. Você não está me ajudando. Então, faz o seguinte: me propõe uma solução, ou, então, para de reclamar. Porque se você só reclamar, a coisa não vai andar, a situação não vai mudar. Você quer que eu faça o quê? Pare de estudar para concurso? É essa a solução? Não… Então vamos ver qual é a solução. Vamos sair toda quinta-feira? Resolve, não resolve?”
E a coisa vai andando… Comunicação é a chave de qualquer relacionamento!
Agora, se você é a outra pessoa, se você não é o concurseiro, se você é quem namora, é filho, é irmão, pai de concurseiro, entenda o seguinte:
- Essa vida é um saco. Estudar para concurso é um saco. Você pode até gostar das matérias, mas é um saco!
- Você respira concurso. E se você não for obsessivo por concurso, você não vai virar um grande estudante e provavelmente não será um aprovado. Você tem que ficar ali vidrado naquilo, tem que ser um desesperado. É assim que as pessoas passam. É quando elas se fecham, entram de cabeça nos estudos que conseguem a aprovação.
Demora, às vezes leva 1, 2, 3 anos, é complicado, eu sei. Mas a vida que vem depois na aprovação em um cargo grande, é fantástica. Ok? Eu conheci o mundo depois que eu fui aprovado.
Eu rodei a Europa, os Estados Unidos, a África, eu fui… Rodei para caramba, conheci muita coisa, muitas culturas. A minha vida mudou completamente, para muito melhor.
São outras possibilidades, são outras pessoas, outros lugares… A coisa fica muito mais interessante.
Então, veja esse investimento que você está fazendo, releve algumas coisas, tente estabelecer rotinas, mas não fique naquele, “poxa, mas, não sei o quê, que droga”… Não!
Seja prático: “Olha só. Não estou te vendo mais. Vamos sair para jantar quinta-feira?”
Resolve a situação, melhora a situação. O que não dá é ficar reclamando, porque, poxa, além do cara já estar numa vida sacal, ele ainda tem que ficar se preocupando com você.
Isso atrapalha o estudo dele, isso atrapalha o rendimento dele também.
Então, se você vai reclamar, você tem o direito, mas eu sugiro que: traga uma solução, diga o que fazer!
“Poxa, eu não tô te vendo, mas se a gente se ver mais, você não vai conseguir estudar.” Vai reclamar disso para quê? Você quer o quê? Terminar o relacionamento, ou você quer que ele pare de estudar?
Tem um meio-termo? Se não tiver, você vai ter que escolher um dos dois. É duro, mas é verdade. O que não pode é ficar incomodando a outra pessoa, sem ter uma solução, sem ter uma ideia.
Como eu falei inicialmente, comunicação resolve tudo, mas, entenda, quem está estudando para concurso, é chato para caramba, não consegue conversar sobre nada, fica aquela pessoa muito chata, aquela pessoa que fica em silêncio, aquele silêncio constrangedor, que nenhum dos dois tem nenhum papo
Não é que ele deixou de gostar de você, é que ele não conversa com ninguém o dia inteiro. Ele só fica estudando, ele não tem mais o que falar. Ele perde a conversa fiada.
Então, é assim mesmo, não significa que ele deixou de gostar de você não.
Fica aí essa terapia de casal para vocês!
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